Tive uma longa conversa com um dirigente sindical experiente que me autorizou a divulgar suas opiniões omitindo seu nome.
Depois de reconhecer as dificuldades dos trabalhadores e do movimento sindical, dificuldades decorrentes da severa e renitente recessão, da lei trabalhista e agora das medidas do governo, o dirigente preocupou-se em pormenorizar as táticas compatíveis com a situação dos sindicatos e com a necessidade de resistência.
Enfatizou, em primeiro lugar, a necessidade premente da descida às bases, aproximando-se diariamente dos trabalhadores para ouvir suas queixas, mesmo as desagradáveis.
A esta descida às bases acrescentou a necessidade, também premente, da unidade de ação que começa com a unidade capaz de produzir notas assinadas conjuntamente, mas deve ser forte o bastante para ir além disso.
Reconheceu também que nas “vacas gordas”, quando a conjuntura era favorável e os recursos eram relativamente folgados, as direções não se preocupavam com a eficácia das iniciativas porque bastava lhes destinar os recursos necessários e convocar as lideranças.
Levando-se em conta a simultaneidade e o atropelo de várias matérias (em particular, no Congresso, a PEC previdenciária, três medidas provisórias e a lei do salário mínimo) torna-se imperioso, a seu juízo, coordenar as mobilizações de massa com o andamento das discussões congressuais, delegando a determinados parlamentares e a determinadas entidades responsabilidades específicas em cada uma das discussões e encaminhamentos.
E, finalmente, reafirmando com força o engajamento previsto pela determinação das centrais sindicais de realizarem no dia 22 de março uma poderosa jornada de mobilização, esclarecimento e protesto, ele propôs uma inovadora, inteligente e econômica tática para a continuidade da luta, adequada às peripécias das várias discussões no Congresso e na sociedade.
Trata-se, conforme ele a denominou, as GPS (a sigla do instrumento eletrônico de orientação) – Greves Programadas Simultâneas.
Depois de estudadas e confirmadas as condições objetivas favoráveis as direções sindicais unidas designariam para algumas entidades a tarefa de realizarem greves no mesmo dia, em determinadas empresas ou em determinados setores, não muitos, mas suficientes para produzirem um grande impacto social devido ao efeito demonstração do sucesso das paralisações.
Uma vez testada com êxito sua viabilidade (êxito que dependeria da criteriosa escolha das entidades, das empresas e dos setores) as GPS poderiam ser repetidas, variando os protagonistas, de acordo com as necessidades e cronograma da luta.
Aplicadas sucessivamente sua somatória ou acumulação poderia vir a materializar a grande greve nacional de protesto e de resistência contra as deformas.
Transcrevi o que conversamos.
João Guilherme Vargas Netto é consultor sindical e membro do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar)