Por Ricardo Flaitt
Projetar um novo Brasil exige compreender o fato histórico de que toda civilização moderna e desenvolvida teve como base a estrutura educacional. Educar o povo está no centro das transformações sociais e, consequentemente, do desenvolvimento, em sentido amplo.
Ainda que atrelado a estados e municípios, o novo presidente do País precisará estabelecer diretrizes para alterar a base educacional, como aconteceu na Coreia do Sul, país que era mais subdesenvolvido que o Brasil, mas que se tornou potência a partir de uma revolução educacional.
Porém, como educação é processo lento, para gerações, e o povo exige soluções imediatas, principalmente para questões como emprego, saúde e segurança pública, os candidatos concentram suas propostas nestes temas emergenciais. Educação é tema abstrato para a massa e para o voto, assim, acaba relegada as poucas linhas nos planos de governo.
O sistema público educacional brasileiro vem sendo destruído ao longo de seis décadas. Nesse processo de dilapidação da estrutura física e do saber, trituram-se professores, alunos e, consequentemente, o sistema todo da sociedade brasileira, uma vez que a ausência do pensamento/conhecimento determina o país em questões que se estendem de ética, da tecnologia, da política, até o papel que não se dever jogar em vias públicas. Educação é a base civilizatória de um país.
O trabalho dos professores, essencial para a formação de um povo, foi desmoralizado financeiramente e moralmente. Devido à desestruturação por parte da classe política, ser professor tornou-se quase que uma vergonha social, sinônimo de fracasso, ainda mais nesses tempos de extrema competitividade e individualidade.
Uma profissão-vocação, que deveria configurar dentre as mais importantes de um país, com valorização e ampara do Estado, tornou-se um apêndice no corpo social. Isso evidencia que o corpo social nacional está na UTI.
O processo de desestruturação da educação, como parte de um projeto de dominação e favorecimento do mercado que vende “conhecimento”, desencadeou efeitos dentro do próprio sistema educacional.
Evidente que não se pode generalizar, colocando todos os professores como seres desprovidos de boa formação, mas, com a profissão permanentemente desvalorizada, também é afetada a formação de novos professores, os quais serão os responsáveis em formar os futuros cidadãos.
A ausência de uma educação consistente, do Estado para o seu Povo, vem alimentando um ciclo de degradação do país em todos os segmentos, em que, ano após ano, despeja na sociedade milhões de pessoas sem condições de abstraírem o mundo que as rodeia.
Um sistema educacional público, gratuito e qualidade representa um dos poucos momentos em que o povo participa do Estado. Incentivar a privatização do ensino é apartar, definitivamente, o povo de qualquer possibilidade de desenvolver-se, assumindo de vez que se busca um cidadão desprovido de capacidade crítica, forjado para apertar parafusos.
Atualmente existe a Educação pública e gratuita, no entanto, devido aos desgovernos, o que mais se forma são analfabetos funcionais que aprendem noções básicas de Língua Portuguesa e Matemática, que mal sabem ler, compreender e debater sobre o que é estudado. Soma-se a isso, o apartamento de matérias essenciais como à História, Geografia, Ciências, Biologia, Filosofia, dentre outras.
Conforme estudo do professor Naercio Menezes Filho, do Insper e da USP, 61% dos brasileiros não conseguem sequer administrar o tempo para responder todas as questões da prova do PISA (Programme for International Student Assessment (Pisa) – Programa Internacional de Avaliação de Estudantes). Dos 70 países avaliados, o Brasil tem o 55º nível de queda de desempenho. O topo é ocupado por Taipei, Coreia do Sul e Hong Kong.
Essas ausência e desconexão do conhecimento com o ser e a sociedade promovem a alienação, constituída por pessoas que não conseguem contextualizar e interligar as diversas ramificações do conhecimento. O mundo passa a ser um grande ponto de interrogação.
Não dá para conceber um novo Brasil sem que seja reformado o sistema público Educacional.
Dentre os candidatos à presidência, apenas Ciro Gomes demonstra, ainda de forma superficial, que para construir um país é necessário implantar um sistema educacional em período integral.
O programa de Ciro pretende fazer com que o aluno do ensino médio fique o dia todo da na escola, conciliando o conhecimento teórico com o prático, por meio de curso profissionalizante. Os alunos contariam com três refeições diárias, prática de esportes, em ambiente mais atraente (isso não foi explicitado). Ao final do ciclo, promoveria o estágio em empresas privadas com salário pago pelo governo.
Diametralmente oposto, outro candidato que aborda o tema é Amoedo, porém, a partir de uma premissa perigosa, que se estabelece pela concessão de um “voucher” aos pobres para ingressarem em instituições de ensino particulares, uma aberração frente ao contexto social brasileiro.
Para os liberais que tanto criticaram o Bolsa Família, isso sim soa como esmola e, se analisada detalhadamente, esconde um projeto indireto de privatização, quando o ideal é que o povo tenha um sistema de educação público, gratuito e de qualidade.
Em um país historicamente desigual, além de humilhante, a proposta de Amoedo e outros que defendem o Estado Mínimo é o abandono completo do povo, é a mendicância da Educação.
O Brasil tem o desafio de educar verdadeiramente seu povo. Já os políticos têm o desafio de compreender, que só existirá desenvolvimento e lucros para os empresários com um povo também capacitado em suas funções cognitivas.
Não se pode mais promover um Brasil em que a massa é condicionada à ignorância, como instrumento para exploração da mão de obra no moedor de carne que é o sistema.
Desafio complexo, ainda mais em um país que, historicamente, as elites promoveram 300 anos de escravidão e que ainda parecem preferir afundar-se economicamente que a ver um pobre convivendo em espaços comuns.
Educação Pública de Qualidade tem de estar também no centro dos debates dos presidenciáveis. Um povo sem formação educacional sólida clama por armas no lugar de livros, cobra a construção de presídios em vez de escolas, sem perceber que estão atirando contra o próprio futuro.