A unidade da esquerda por Lula presidente deveria ter acontecido antes do dia 7 de abril de 2018, como uma saída lógica para a esquerda neste momento obscuro em que vivemos (Governo Temer).
Mas, o que aconteceu foi que, mesmo antes da prisão de Lula, os partidos de esquerda, que sempre o apoiaram, lançaram candidaturas próprias, dividindo o campo: PDT lançou Ciro Gomes, PCdoB, Manuela D´Avila e Guilherme Boulos se filiou ao PSOL para se lançar candidato a presidente.
Se houvesse unidade, e não essa fragmentação de candidatos, talvez o ex presidente Lula nem tivesse preso, pois os partidos e pessoas citados teriam potencial de chamar a militância às ruas, algo que o PT não conseguiu fazer.
Depois do dia 7 de abril de 2018 a situação mudou e a unidade da esquerda por Lula presidente deixou de fazer sentido.
A candidatura do Ciro Gomes avançou no caminho de se consolidar como uma alternativa para a esquerda.
A candidatura da Manuela D´Avila avançou no sentido de se consolidar como uma aliada de peso.
Percebendo o potencial de Ciro Gomes, entretanto, o PT, além de buscar neutralizar o PSB, ofereceu um mirabolante Plano C para o PCdoB, mantendo-o sob sua tutela.
Defender a unidade em torno de Lula, que é maior que o PT, não se traduz em engolir uma pseudo unidade em torno de Fernando Haddad. Embora tenha sido um excelente prefeito Haddad só cresce nas pesquisas quando aparece como o candidato ungido pelo ex-presidente Lula. É justo isso com o povo brasileiro?
Ao se aliar ao PT a candidata Manuela está jogando fora todo o acumulo que conquistou até aqui: uma candidatura simpática, jovial, propositiva, combativa, inovadora e, ao mesmo tempo, respeitosa à história e zelosa com a causa social.
O PCdoB está entregando tudo isso de bandeja ao PT. Está deixando de apoiar, e de sinalizar para outros potenciais apoiadores, uma candidatura que hoje, entre as candidaturas viáveis no campo da esquerda, é a melhor posicionada nas pesquisas.
A prisão de Luís Inácio Lula da Silva é injusta. Ele está preso unicamente porque a direita, os banqueiros, os donos das investidoras que ganharam um grande espaço no governo de Michel Temer, sabem que, se solto, ele vai direto para a presidência da República. Esta é a vontade do povo. Queremos Lula livre. Queremos Lula presente de corpo e alma na política brasileira. Mas, uma coisa é a liberdade de Lula, outra coisa são as eleições. São coisas separadas que só se encontram na perspectiva de algum candidato progressista se eleger, fazendo justiça, anular o processo que resultou neste absurdo encarceramento.
Se aventurar em uma candidatura apadrinhada, com um candidato que o partido dos Trabalhadores quer enfiar goela abaixo do povo é colocar o Brasil em risco.
Sinto que estamos perdendo a oportunidade de construir de fato alternativas à esquerda e de deixar de ser reféns de uma concepção hegemonista de partido único.
Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical