PUBLICADO EM 23 de jul de 2025

Lula defende democracia e justiça social em encontro no Chile

Em discurso no Chile, Lula defende democracia, justiça social, combate à fome e proteção ambiental em diálogo com a sociedade civil.

Lula defende democracia e justiça social em encontro no Chile

Lula defende democracia e justiça social em encontro no Chile

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a democracia, a justiça social e o desenvolvimento sustentável durante encontro com representantes da sociedade civil no Chile.

No discurso, lido em Santiago, Lula destacou a história de solidariedade do país, lembrando que o Chile abrigou brasileiros perseguidos por ditaduras. Assim, ele reafirmou o valor da união latino-americana.

O presidente alertou que os inimigos da democracia mudaram de tática. Hoje, controlam algoritmos, espalham ódio e promovem guerras culturais para manipular a opinião pública.

“Os inimigos da democracia não recorrem mais à diplomacia dos tanques e das canhoneiras. Eles controlam algoritmos, semeiam o ódio e espalham o medo.  Promovem uma guerra cultural. Utilizam o comércio como instrumento de coerção e chantagem”

Lula citou o golpe contra Salvador Allende há 52 anos como símbolo dos horrores vividos pela América Latina. Por isso, ressaltou que a luta democrática deve ser permanente.

De acordo com ele, a desinformação e o extremismo corroem instituições e ampliam a polarização. Assim, é essencial combater a desigualdade para impedir retrocessos.

Lula defendeu um novo pacto social que coloque o ser humano no centro das políticas públicas. Para isso, reafirmou o papel do Estado na garantia de direitos.

Ele lembrou que milhões ainda passam fome, sem acesso a água ou eletricidade. Por isso, propôs justiça tributária para enfrentar privilégios do grande capital.

No campo ambiental, Lula destacou a importância da COP-30 na Amazônia e defendeu metas ambiciosas para conter o aquecimento global.

Além disso, ele criticou gastos militares que poderiam ser usados para combater a fome. Também cobrou regulação das plataformas digitais para proteger a democracia.

Por fim, Lula ressaltou que defender a democracia é tarefa de todos. A mobilização popular, disse, é essencial para evitar retrocessos e garantir o direito de viver em paz.

Leia a íntegra do discurso:

Falar de democracia em Santiago e na companhia de tantas organizações e movimentos sociais me faz me sentir em casa.

Como lembra o hino nacional chileno, este país foi “ASILO CONTRA A OPRESSÃO” para muitos latino-americanos perseguidos por ditadores.

Aqui, Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Marco Aurélio Garcia, Emir Sader e muitos outros brasileiros receberam abrigo.

O golpe de estado contra o presidente Salvador Allende, há 52 anos, foi mais um capítulo sombrio de um período tenebroso da nossa história.

Nossos países conheceram os horrores dos regimes de exceção.

Recuperamos a liberdade nas ruas, lutando arduamente e sem tréguas.

Percorremos um longo caminho para construir sociedades mais justas, ampliar direitos e restaurar o primado da lei.

Hoje, essas conquistas estão novamente em xeque.

O extremismo político avança sobre as instituições e aprofunda a polarização.

A desinformação corrói a verdade.

Na Europa, 48% dos jovens acreditam que a democracia está em risco.

Apenas 33% dos latino-americanos estão satisfeitos com o atual modelo.

No Brasil, nova tentativa de golpe logo após as eleições de 2022 mostrou que a luta contra o fascismo deve ser permanente.

Sem questionar as razões que impulsionam o apelo por soluções autoritárias, andaremos em círculos.

Em meio aos escombros do neoliberalismo, temos como legado uma massa de deserdados e excluídos, presas fáceis de aventureiros que negam a política.

A extrema direita organizada internacionalmente oferece um novo Consenso de Washington (ou melhor, um novo Dissenso de Washington): antidemocrático, negacionista e intervencionista.

Os inimigos da democracia não recorrem mais à diplomacia dos tanques e das canhoneiras.

Eles controlam algoritmos, semeiam o ódio e espalham o medo.

Promovem uma guerra cultural.

Utilizam o comércio como instrumento de coerção e chantagem.

Atacam as instituições, a ciência e as universidades.

Solapam a solidariedade entre as nações.

A extrema direita latino-americana é subserviente e saudosa de antigas hegemonias.

É antissoberana e abdica da autodeterminação dos povos.

Essa é a principal ameaça à construção de um continente integrado, desenvolvido e autônomo.

As forças progressistas precisam recuperar várias bandeiras que um dia já foram nossas.

E precisamos fazer isso unidos, sem dispersão.

Ninguém vive numa redoma, isolado dos dilemas da humanidade.

Somos herdeiros de longa tradição que vem das lutas de independência, da abolição da escravidão, da conquista de direitos trabalhistas e do voto universal.

Nossa missão histórica é a de ser portadores da esperança e promover a igualdade e o desenvolvimento sustentável.

Democracia não é só votar — é ter comida na mesa, ter uma casa, ver seus filhos na universidade, desfrutar de lazer e cultura.

Como afirmou o Papa Francisco, não há democracia com fome, nem desenvolvimento com pobreza e nem justiça na desigualdade.

Um novo pacto social, que coloca as pessoas no centro das políticas públicas, passa pelo resgate do papel do Estado como instrumento para a conquista e efetivação de direitos.

O “Estallido Social” no Chile foi o grito de quem não aceita mais privilégios para poucos.

A concentração de renda é tão absurda que 1% das pessoas mais ricas do planeta controla 45% da riqueza global.

733 milhões de pessoas no mundo continuam passando fome e vivendo sem eletricidade e água.

Mas não falta dinheiro nem alimentos. O que falta é indignação e vontade política.

Recolocar o combate à fome e à pobreza no centro das prioridades da comunidade internacional é a principal tarefa da Aliança lançada pela presidência brasileira do G20, no ano passado.

Sem justiça tributária, as distorções continuarão se ampliando em favor do grande capital e dos bilionários.

Os super-ricos e os negacionistas andam de mãos dadas.

Os efeitos da mudança climática têm deteriorado a qualidade de vida em todo o mundo.

As populações mais vulneráveis são as mais atingidas.

Na COP-30, no coração da Amazônia, o Brasil quer discutir caminhos para uma transição justa.

A participação social será essencial para seu sucesso.

Embaixo de cada copa de árvore existe um indígena, um quilombola, um ribeirinho e um seringueiro que precisam sobreviver.

Sem metas ambiciosas não impediremos que o aquecimento global supere um grau e meio.

É impossível seguir indefinidamente com um modelo de crescimento baseado nos combustíveis fósseis.

Durante séculos, a exploração mineral gerou riqueza para poucos e deixou rastros de destruição e miséria para muitos.

Proteger biomas como a Amazônia, o Atacama e os fundos marinhos é fundamental para afastar os efeitos danosos das práticas neocolonialistas e neo-extrativistas.

Não haverá democracia e desenvolvimento sustentável em um mundo conflagrado.

Ano após ano, guerras e conflitos se acumulam.

Na Ucrânia, é preciso que as partes se sentem para falar de paz.

Nada justifica a matança indiscriminada de milhares de mulheres e crianças em Gaza.

Gastos militares consomem anualmente o equivalente a 2,7 trilhões de dólares.

Esse montante podia ser investido no combate à fome e na transição justa.

Enfrentar com seriedade os dilemas impostos pelo avanço das novas tecnologias é outra tarefa coletiva urgente.

Nossas sociedades estarão sob constante ameaça sem regulação das plataformas digitais e das “Big Techs”.

Esse é o grande desafio contemporâneo dos estados soberanos.

O que é crime na vida real deve ser crime no ambiente digital.

Liberdade de expressão não se confunde com liberdade de agressão.

As redes digitais não são uma terra sem lei em que é possível atentar impunemente contra a democracia, incitar o ódio e a violência.

A experiência brasileira mostra que o equilíbrio entre os poderes constituídos, a resiliência e o fortalecimento das instituições são cruciais.

Defender a democracia é uma tarefa de governos, sociedade civil, estudantes, trabalhadores, parlamentares, empreendedores, mulheres, afrodescendentes e os povos indígenas.

É uma tarefa que exige desprendimento e compromisso dos atores públicos.

Minhas amigas e meus amigos,

O momento é singular. E singular deve ser a nossa atitude.

Me inspiro em Violeta Parra para “VOLTAR A TER 17 ANOS, TODOS OS DIAS, DEPOIS DE VIVER UM SÉCULO”.

Eu tenho 79 anos e peço a Deus que me permita viver até os 120.  Saio revigorado deste diálogo com os movimentos sociais.

Quem tem uma causa não envelhece.

A história nos ensina que nenhum retrocesso se sustenta diante da mobilização popular.

Viva a democracia! Viva o direito de viver em paz!

Muito obrigado.

Leia também: MST publica Carta em defesa da Reforma Agrária e da Soberania

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