As décadas de 1980 e 90 foram marcadas pela crise econômica, recessão, inflação, desemprego, informalidade e desinstitucionalização no contexto do crescimento do neoliberalismo.
Foi uma época de pessimismo social em que lutas por resistências prevaleciam sobre lutas por avanços. Um rock nacional politizado emergia então, refletindo uma nova cultura pós ditadura militar.
O Zé Ninguém, de Biquini Cavadão, se forma aí. A música é precisa ao definir o sentimento do cidadão comum, do trabalhador, como alguém alheio ao Brasil representado pelos políticos e pela classe dominante. Ela fala deste estranhamento do povo com seus representantes e até com a cultura que a elite entende como oficial.
Muita história se passou desde o lançamento de Zé Ninguém no início da década de 1990. Aquele cidadão que não se reconhece no Brasil oficial, entretanto, persiste. Ele é o povo que vive no andar de baixo, muitas vezes fora do alcance das leis e dos direitos.
Zé Ninguém
(Composição: Miguel Cunha e Bruno Gouveia/1989)
Intérprete: Biquíni Cavadão
Quem foi que disse que amar é sofrer?
Quem foi que disse que Deus é brasileiro?
Que existe ordem e progresso
Enquanto a zona come solta no congresso?
Quem foi que disse que a justiça tarda mas não falha?
Que se eu não for um bom menino, Deus vai castigar?
Os dias passam lentos
Aos meses seguem os aumentos
Cada dia eu levo um tiro
Que sai pela culatra
Eu não sou ministro, eu não sou magnata
Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém
Aqui embaixo as leis são diferentes
Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém
Aqui embaixo as leis são diferentes
Quem foi que disse que os homens nascem iguais?
Quem foi que disse que dinheiro não traz felicidade?
Se tudo aqui acaba em samba
No país da corda bamba, querem me derrubar!
Quem foi que disse que os homens não podem chorar?
Quem foi que disse que a vida começa aos quarenta?
A minha acabou faz tempo, agora entendo porque
Cada dia eu levo um tiro
Que sai pela culatra
Eu não sou ministro, eu não sou magnata
Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém
Aqui embaixo as leis são diferentes
Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém
Aqui embaixo as leis são diferentes
Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém
Aqui embaixo as leis são diferentes
Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém
Aqui embaixo as leis são diferentes
Os dias passam lentos
Os dias passam lentos
Cada dia eu levo um tiro
Cada dia eu levo um tiro
Eu não sou ministro, eu não sou magnata
Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém
Aqui embaixo as leis são diferentes
Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém
Aqui embaixo as leis são diferentes
Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém
Aqui embaixo as leis são diferentes
Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém
Aqui embaixo as leis são diferentes
Fonte: Centro de Memória Sindical