Por Carolina Maria Ruy
Começou assim: dia desses estava no bar São Cristóvão com amigos e um deles falou do filme do Laerte. Ele era da Oboré e conhece o Laerte desde antes dele se tornar um dos principais cartunistas do país. Gostou do filme e nos recomendou.
Tem no Netflix, e tal. Mas passaram meses entre essa recomendação e o dia em que cliquei no filme. Estava sozinha na sala, comecei a assistir e… não é um épico.
O João olhou, não se interessou de primeira, mas queria saber onde eram aquelas filmagens na praia nos anos de 1960. “Vamos ver do início então”.
Vimos. “Não vai falar da história dele, desde as greves de 78?”. “Não, não vai”. Fomos até o fim. Acabou com calma. Nada?
Dias depois estava pensando no filme e, mais do que isso, me identificando com sensações que ela, expôs com tanta clareza.
Em uma discussão boba em um grupo de Whatsapp, sobre um assunto que espantosamente ainda gera discussão (já devia estar superado) citei e recomendei o filme.
Dia desses estava eu sozinha em casa, cliquei no filme novamente, e rodou inteiro. Por quê? Perguntou João. Porque é calmo. É sensível e real. Porque ela fica na calçada com a gata paraplégica.
Porque ela tem a gata paraplégica, que é linda. Porque ela dançou na rua com um micro vestido de lantejoulas dourado, e parece preocupada em saber se estava ou não linda naquele vestido. Ora, mas quem dança, com a turma, na rua com um vestido dourado está além das aparências. Está além de estar em forma para o micro vestido.
Me meti então a escrever sobre o filme. As palavras, entretanto, faltam. Difícil falar o óbvio. A vontade que tenho é de dizer: assista, sinta e reflita.
Rodapés, monitores, pratos, pianos, vestidos, maquiagens, gatos, vizinhos, enfim, detalhes tão reais expostos no documentário, que quase podemos toca-los e sentir seus aromas. O filme não é sobre a história da cartunista Laerte. Mas sim sobre seu momento. Sua busca. A busca de sua própria verdade.
Por isso, talvez, ele não cause um grande impacto imediato. Ele vai se colocando. Não é uma válvula de escape em tempos como esse? Acho que é. Bem, não sei. Vou ver de novo…
Carolina Maria Ruy, jornalista, coordenadora do Centro de Memória Sindical
Data: 2017
Direção: Lygia Barbosa da Silva, Eliane Brum
Elenco: Laerte
Gênero Documentário
Brasil
Distribuidor: Netflix
rita de cassia vianna gava
Filme poesia.No início parece que não tem lógica, mas envolve e você percebe sua intensidade. Grande Laerte poderoso .