Por Marcos Aurélio Ruy
Com base na realidade do povo Sami, que habita parte da Suécia, Noruega, Finlândia e Rússia, com roteiro de Peter Birro e Laestadius, o filme traz à mente as violências sofridas pelos povos originários em todo o mundo. E esse contexto nos faz lembrar a situação dos povos indígenas no Brasil, vítimas de sucessivos ataques de latifundiários que ainda persistem em muitos estados.
Aqui como lá, os indígenas sofrem ameaças à sua cultura e à própria sobrevivência. No caso específico dos Sami, a população local os hostiliza, matando suas renas porque sabem da profunda ligação desse povo com esse animal. Para eles, as renas são santificadas, parte da família, como os animais domésticos no mundo contemporâneo.
O filme mostra a trajetória da protagonista – personagem forte – Elsa (Elin Oskal, Elsa jovem), que, na infância, presencia o cruel assassinato de uma rena pouco mais que um bebê, por um caçador local, como forma de mostrar repugnância pelos Sami. A polícia não leva a sério as denúncias e não investiga esses crimes. Por isso, Elsa resolve investigar por conta própria, chegando ao criminoso.
A resistência de Elsa, principalmente por ser mulher e jovem, mexe tanto com os fascistas quanto com os dirigentes de seu povo, que escolheram o tom conciliatório como tática de apaziguar os ânimos fascistas, mas só conseguem mais violência contra si próprios.
Mas o filme vai além ao mostrar os perigos da destruição ambiental em prejuízo da preservação do planeta. Não se trata de preservar como um santuário intocável, mas também não se pode destruí-lo em nome de um progresso que só beneficia meia dúzia de gatos pingados muito ricos, inclusive em detrimento da imensa maioria das pessoas mundo afora.
Resistência
A protagonista da trama invade a casa do fascista Robert Isaksson (Martin Wallström) e consegue provas de sua culpa, que todo mundo já sabia, menos a polícia que preferia acreditar no criminoso e não investigar os crimes, arriscando-se e até sendo ameaçada de morte. Com isso, deixa-se claro que a resistência é essencial para se derrotar o capitalismo destruidor de vidas e sonhos.
Como diria Karl Marx, o sistema capitalista não tem coração nem alma, por ser completamente amoral. Portanto, é impossível humanizar o capitalismo como muita gente acredita, porque o capitalismo não perdoa, destrói sem piedade.
E se não há saída para a humanidade por esse sistema, é preciso construir o sistema da classe trabalhadora, o socialismo para salvar a vida e o planeta. Uma solução para acabar com a exploração da força de trabalho pelo capital e ainda preservar a natureza.
No caso do filme, o ataque viria através de uma mineradora, que acarretaria alguns empregos, mas mata as renas, que fazem parte da cultura dos Sami, e prejudica o meio ambiente. A solução seria buscar alternativas para manter os empregos e não prejudicar nenhuma vida.
Essa é uma das reflexões importantes de Herança Roubada que nos levam a fazer referência à ascensão do pensamento fascista no mundo, que favorece os mecanismos de ódio e violência, essencialmente como expressão de um sistema que tudo destrói e não cria nada, nem empregos.
A força da protagonista Elsa está em não se submeter e enfrentar os inimigos com inteligência necessária para se impor, porque “quem se curva aos poderosos mostra a bunda aos oprimidos”, como disse Millôr Fernandes.
Marcos Aurélio Ruy é jornalista
Veja aqui o trailer do filme:
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