A primeira vez que Aldo Rebelo esteve no Piauí foi em 1979. Em meio a reconstrução da União Nacional dos Estudantes (UNE) foi eleito secretário-geral da entidade e tornou-se presidente em 1980. De carro, foi de Teresina a Parnaíba em campanha para a entidade estudantil e se impressionou com o Monumento Heróis do Jenipapo, erguido quatro anos antes em Campo Maior, ao ver materializado a história lida nos livros sobre a batalha sangrenta pela independência do Brasil. No ano passado, foi de carro de Parnaíba a Corrente, dormiu em Cristino Castro, reconheceu amigos de longa data no Estado. No próximo dia 25, Aldo tem um novo encontro com o Piauí. Ele estará em Teresina como pré-candidato à Presidência da República.
Em entrevista à equipe de jornalistas de política do Jornal Meio Norte, o ex-ministro da Defesa, dos Esportes, da Ciência e Tecnologia, da Secretaria de Relações Institucionais nos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e ainda presidente da Câmara de 2005 a 2007, afirmou que o principal ponto de sua plataforma como pré-candidato é a volta do crescimento da economia, o que beneficiará todas os estados, especialmente os da região Nordeste.
Aldo acredita que o Nordeste pode se destacar, como se destacou nos últimos anos, com um novo fluxo de indústrias que encontram na região as condições mais aptas para a produção. Ele lembra que a agricultura e a pecuária têm conhecido novas áreas de expansão, como o Piauí, que teve um crescimento de 84% em 13 anos.
“A agricultura e a pecuária tem conhecido novas áreas de expansão no Piauí, no Maranhão e na Bahia. O Nordeste continuará forte tanto na produção de alimentos para abastecer a mesa dos brasileiros, como nas culturas de exportação, sobretudo as de frutas, que pode ser ainda mais incentivada. Um governo atento tem de dinamizar um programa de turismo nacional e internacional que explore as maravilhas naturais da região. O Piauí se insere em todos esses cenários, com uma economia que teve crescimento acumulado de 84% entre 2002 e 2015. Percorri, no ano passado, o Piauí de Parnaíba a Corrente e vi a melhoria da infraestrutura, principalmente das estradas. O Governo Federal deve retomar os planos de desenvolvimento regional para atender as necessidades específicas do Nordeste”, analisou Aldo Rebelo.
Depois de uma militância de 40 anos no PC do B, uma rápida transferência para o PSB, o senhor alojou-se no Solidariedade e se lançou pré-candidato à Presidência da República. Por que essas mudanças? O que mudou no Senhor e o que mudou nas esquerdas brasileiras? Mudei de partido para não mudar de ideias. Minha visão do mundo, minha linha política, meu desejo de atuar como homem público no partido do Brasil continuam iguais. Claro que os homens mudam com o mundo, e a militância política adapta-se aos novos cenários. O importante é que conjuguei com o Solidariedade pontos de identidade na defesa da democracia, do desenvolvimento, da soberania nacional, plataforma que é comum a toda a esquerda.
Como o senhor, ex-ministro da Presidente Dilma, e tendo permanecido com ela todo o tempo, foi para o Solidariedade, juntando-se a Paulinho da Força, que foi fiel seguidor dos movimentos do Impeachment que derrubou Dilma? Temos de forjar um novo ciclo político no Brasil, o da união de forças para tirar o País da crise. O Solidariedade se apresenta como um partido comprometido com a democracia, sem fazer distinções ideológicas menores diante do desafio maior de fazer o Brasil voltar a crescer e propiciar um nível satisfatório de bem estar à população. Não vejo razão para divisão entre direita e esquerda, entre os que almejam o desenvolvimento nacional. Dividir o País não vai resolver nossos problemas.
Como o senhor vê o crescente número de candidatos à Presidência da República com plataformas de Direita? A que o senhor credita esse fenômeno? A maioria das candidaturas já postas parece navegar nas largas águas do centro, algumas com inclinações à esquerda ou à direita. Acho natural haver candidaturas de viés conservador, porque essa é uma corrente forte na cena política e expressa um pensamento antigo em qualquer sociedade. É legítimo e até saudável que se organize politicamente para disputar o poder democraticamente.
Recentemente, o senhor disse que para o Brasil voltar a crescer é necessário dar fim ao falso conflito entre mercado e Estado. O que o senhor quer dizer com isso? É um falso conflito porque Estado e iniciativa privada são indispensáveis à construção e consolidação de um país. Cada um tem seu papel específico e tarefas complementares. A China fez essa dobradinha e foi com essa parceria que alcançou altas taxas de crescimento, e foi com ela também que países ricos se desenvolveram. O chamado “mercado” age pela livre iniciativa, dinamiza o setor produtivo, produz riquezas, gera renda, salários, impostos. O Estado tem o papel de regular, formular políticas de interesse nacional, prover a infraestrutura, garantir os serviços essenciais à população, induzir o desenvolvimento. Devem caminhar juntos, como caminharam e caminham em todo país desenvolvido. Por isso, digo que o Brasil precisa de mais Estado e mais iniciativa privada.
O senhor declarou em recente entrevista que o Poder dança entre corporações e que não se sabe se quem manda mais no país é um juiz de primeiro grau ou o presidente da República. Por que isso? O senhor pode explicar essa sua visão? Está havendo uma desarmonia de poderes, quando a Constituição determina que eles atuem em harmonia e com independência entre si. O Judiciário e o Ministério Público estão invadindo áreas de competência do Executivo e do Legislativo. Decidem o que o Executivo pode ou não fazer e criam normas legais que seriam próprias ao Legislativo. O combate à corrupção deve ser louvado, mas a substituição da política pelas corporações é um mal para a democracia que deve ser evitado.
O senhor foi Ministro da Defesa, além de Ministro do Esporte e também da Ciência, nos governos Lula e Dilma. Entre 2015 e 2016 o senhor, então como ministro, conviveu no dia a dia com os militares e tem dito que não vê razão nenhuma ao papel dos militares no atual momento brasileiro. Qual a razão dessa segurança? As Forças Armadas têm uma história de destaque na fundação e consolidação da nação brasileira. Devem ser respeitadas e valorizadas. Seu compromisso com a democracia, o estado de direito, a vontade eleitoral da nação está firme, como atestam a paz nos quartéis e a palavra e a ação dos comandantes militares. O problema é os civis que tentam desviar os militares de sua missão constitucional.
O senhor tem sido um crítico contundente da prisão do ex-presidente Lula e contra os atos de violência, inclusive com tiros, contra a caravana do ex-presidente no Paraná, antes da prisão. Que riscos o senhor vê nesses procedimentos? O risco é o de rebaixamento da política. A política foi inventada para administrar os conflitos e promover o bem comum, e, portanto, evitar a violência nas relações sociais. A democracia, com regras claras, direito de expressão e de organização, além de eleições regulares, deve ser o palco onde as diferenças se apresentam para as escolhas dos cidadãos. Tenho dito que o Brasil não tem saída fora da democracia, e a democracia não tem saída fora da política.
A pré-candidata de seu ex-partido (PC do B), Manuela D’Ávila, considera viável uma aliança entre os partidos do campo progressista e citou o ex-ministro Ciro Gomes e o ex-presidente do STF, Joaquim Barbosa, Boulos, do PSOL e o próprio PT. Por sua vez, fortes correntes do PT rejeitam Ciro Gomes. O que o senhor pensa disso? Há muitas pré-candidaturas lançadas, algumas com pontos comuns nos programas, e portanto é natural que surjam movimentos de união. Mas a campanha mal começou. O desempenho dos pré-candidatos é que vai ser decisivo para as alianças eleitorais.
Na hipótese provável da ausência do ex-Presidente Lula nas eleições, o senhor acha que há possibilidade de êxito das chamadas forças progressistas sem fortes alianças? Não, nenhuma possibilidade de êxito. A união é necessária em qualquer circunstância, mas nessa situação atual de crise e desorientação ela se faz indispensável. E vou além: o Brasil precisa da união não só de grupos semelhantes, mas de amplas forças econômicas, sociais e políticas que desejem o bem do País.
As pesquisas têm mostrado que os eleitores nordestinos revelam elevados índices de indecisão quanto à eleição Presidencial. O senhor acredita que esses eleitores querem ver outro nordestino na Presidência da República? O Nordeste é a região do Brasil com maior identidade. São nove estados marcados por peculiaridades e singularidades, mas unidos por uma formação histórica e cultural comum. O gentílico nordestino é orgulho de todos, do Maranhão à Bahia. Nenhuma outra região tem essa particularidade. Então é natural que o Nordeste vá às eleições com bandeiras de abrangência regional, com reivindicações e aspirações que atendem às necessidades comuns de seus estados.
“Percorri, no ano passado, o Piauí de Parnaíba a Corrente e vi a melhoria da infraestrutura, principalmente das estradas. O Governo Federal deve retomar os planos de desenvolvimento regional para atender as necessidades específicas do Nordeste”
O país tem apresentado fortes indicativos de divisão entre Norte/Nordeste versus Sul/Sudeste. Por que essa rivalidade? Alguma razão lógica para essa divisão, esse separatismo camuflado? Existem no Brasil distinções regionais, mas a harmonia nacional é mais forte e barra qualquer ideia de separatismo. Nosso território foi consolidado e nosso povo foi formado com base em unidade invejável. O primeiro movimento nativista se deu na guerra de expulsão dos holandeses que invadiram o Nordeste no século XVII. Os paulistas participaram dessa luta, e o grande bandeirante Raposo Tavares reuniu 150 homens à sua custa para defender a nação que já se esboçava. São Paulo muito deve de sua força e pujança aos milhões de nordestinos que migraram para enriquecer a economia e a cultura daquele estado. Temos diferenças, mas somos todos brasileiros com um patrimônio unificado que é a língua portuguesa.
Após um período diferenciado, com crescimento do seu PIB maior que o PIB nacional, o Nordeste tem reduzido esse ritmo de crescimento. O que o senhor, se eleito, pretende fazer para que os Estados nordestinos voltem a crescer? O principal ponto de minha plataforma de pré-candidato é a volta do crescimento da economia. Quando o Brasil cresce, todos os estados e regiões também crescem. O Nordeste pode se destacar, como se destacou nos últimos anos, com um novo fluxo de indústrias que encontram na região condições mais aptas para a produção.A agricultura e a pecuária têm conhecido novas áreas de expansão no Piauí, no Maranhão e na Bahia. O Nordeste continuará forte, tanto na produção de alimentos para abastecer a mesa dos brasileiros, como nas culturas de exportação, sobretudo as de frutas, que pode ser ainda mais incentivada. Um governo atento tem de dinamizar um programa de turismo nacional e internacional que explore as maravilhas naturais da região. O Piauí se insere em todos esses cenários, com uma economia que teve crescimento acumulado de 84% entre 2002 e 2015. Percorri, no ano passado, o Piauí de Parnaíba a Corrente e vi a melhoria da infraestutura, principalmente das estradas. O Governo Federal deve retomar os planos de desenvolvimento regional para atender as necessidades específicas do Nordeste.
Que informações o senhor detém e quais as perspectivas que o senhor vê para os resultados do seu novo partido, o Solidariedade, no Piauí? O Solidariedade é um partido novo, de apenas cinco anos, que se consolida como uma organização política de abrangência nacional. Tem uma forte base sindical e um excelente trabalho de formação de quadros desenvolvidos pela Fundação 1.º de Maio. Em todo o País o momento é de diálogo com outras forças políticas, visando a alianças nos planos nacional e estaduais. No Piauí dispomos de nomes fortes, tanto para o Senado como para o Governo do Estado.
Como o senhor avalia a desistência do ex-presidente do STF, Joaquim Barbosa, de sua propalada candidatura à Presidência da República? De sua parte, pode existir um caminho de volta para uma composição com o PSB? Barbosa, um jurista muito preparado, deixou claro que não tem apetite para os dissabores de uma campanha eleitoral. Sua desistência abre a possibilidade de uma fraterna composição com PSB. Temos identidade programática e uma história comum, no Congresso e no governo, em defesa dos interesses nacionais.
Fonte: Jornal Meio Norte