“Mulher, mercado de trabalho e a sociedade” foi o tema do Encontro de Mulheres promovido pela Fetquim na última terça-feira (14/03), na sede da entidade − a primeira atividade presencial pós-pandemia − a exatos cinco anos da morte de Marielle Franco e Anderson Gomes.
A desigualdade de gênero no mundo do trabalho é um desafio cultural a ser vencido. Pouco a pouco as mulheres têm feito um trabalho de formiga na resistência e desconstrução desse sistema machista e patriarcal que coloca a mulher nos cuidados do lar como mão de obra não remunerada −de modo a deixar de propósito que elas fiquem dependentes economicamente dos homens e longe das altas esferas de decisão.
“Duvido que vocês aqui não tenham feito uma opção de trabalho que permitisse conciliar o trabalho de casa. Quando há sobrecarga de trabalho doméstico sobre a mulher isso é intencional. A sociedade precisa ter responsabilidade sobre a vida em sociedade. Não são as mulheres que precisam dar conta. Isso não é um problema individual e privado. É social. Os homens não se integram nas necessidades da casa a cuidados com idosos e doentes”, explica a economista Marilane Teixeira.
Por isso a pressão sobre as instituições, partidos e governos (constituição de leis de cota, punições para práticas discriminatórias) precisa fazer parte da pauta diária nos sindicatos.
“O tema dos cuidados e da violência contra a mulher ganhou uma nova dimensão na pandemia porque aprofundou e mostrou ainda mais essa realidade. Quem apanhou ou teve que parar de trabalhar na pandemia foram as mulheres para cuidar das crianças, dos doentes, dos idosos”, lembra Rosângela Paranhos, secretária da Mulher Trabalhadora da Fetquim.
No caso das mulheres pretas, para cada 100 delas, lembra a secretária, 40 estão desempregadas, desalentadas ou subutilizadas (trabalhando muito menos do que poderiam e gostariam).
Trabalhar e ser mãe
As mulheres, independentemente da cor ou raça, são diariamente confrontadas com a escolha entre o espaço produtivo e o reprodutivo. Para assumir plenamente a responsabilidade pela reprodução social, as mulheres são obrigadas a ficar em trabalhos precários e flexíveis, próximos de casa, ou com horários e dias intercalados, para dar conta das necessidades do lar. E deste modo, ficam mais desprotegidas na doença e na aposentadoria.
Precisamos, de imediato, aumentar a influência para a formulação de legislação específica que penalize a prática de discriminação contra a mulher (caso do projeto de lei sobre igualdade salarial enviado ao Congresso em 8 de março de 2023), fortalecer iniciativas que questionem o modelo de família e cuidado, contribuir para ações que efetivamente representem maior compartilhamento de responsabilidades familiares no lar, e lutar pela ratificação da Convenção 156 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) na luta pela igualdade.
Apesar de o crescimento do feminismo e do movimento de mulheres ser lento (sem contar a ressaca pós- desgoverno histórico do fascista Bolsonaro) há uma boa notícia: isso tem impactado as lutas sindicais (leia mais aqui), o que nos enche de esperança para dias melhores e mais iguais entre os gêneros.
Fonte: Fetquim-CUT