PUBLICADO EM 15 de ago de 2018
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65% das vítimas letais da polícia são negras e da periferia, diz pesquisa

Pesquisa realizada pela Ouvidoria da Polícia de São Paulo sobre o uso de força letal por policiais, em 2017, no estado de São Paulo aponta que 65% das vítimas são negras e moradoras da periferia. O levantamento foi motivado pela crescente curva de letalidade registrada no ano passado, com a morte de 940 vítimas. Esse número só é menor que os dados de 1992, quando 1.470 civis foram mortos pela polícia no estado.

O estudo, apresentado ontem (13) na sede da Ouvidoria, traz constatações estarrecedoras: os jovens negros da periferia são as maiores vítimas da letalidade policial.

Dos 940 mortos pela polícia, o estudo investigou 756 casos, o que representa 80% do total das vítimas letais em 2017. Pelos números, 65% das pessoas que morreram têm até 25 anos.

O levantamento analisou dados como situação de ocorrências, delitos, horários, locais, faixa etária, cor da pele, escolaridade e antecedentes criminais.

De acordo com o ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo, Benedito Mariano, a discriminação e o estereótipo do senso comum reforçam, cada vez mais, a violência letal contra pobres e negros.

“Essa é uma questão cultural que precisa ser enfrentada cotidianamente não só nas escolas de formação, mas no trabalho diário. O policial da ponta é levado muitas vezes ao senso comum. E o senso comum não pode pautar a ação do policial”, afirma Mariano.

Criado pelo coronel Nilson Giraldi e utilizado pela Polícia Militar de São Paulo desde 1998, o método conhecido como Tiro Defensivo na Preservação da Vida tem como objetivo preparar o PM para usar sua arma de fogo dentro dos limites da lei e dos direitos humanos.

De acordo com o Método Giraldi, a arma de fogo só pode ser disparada em situação em que se torne necessária e indispensável como último recurso.

O assessor da Polícia Militar e da Ouvidoria, major Luiz Fernando Alves, ressalta que a metodologia reduz muito as ações letais quando usada e aplicada pelos policiais nas abordagens diárias.

Segundo Benedito Mariano, a polícia deveria instituir uma disciplina prioritária e estrutural nas academias de formação para que a cultura do preconceito contra a população pobre acabe nas abordagens policias.

Além dos dados sobre letalidade e alto índice de suicídios envolvendo policiais, a pesquisa faz 14 recomendações à Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo. Entre elas, a de reativar a Comissão Especial para Redução da Letalidade em Ações Policiais, centralizar no Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa todas as investigações de homicídios de autoria desconhecida e criar disciplina nas Escolas e Academias de Polícia sobre estereótipos de suspeitos e discriminação social e racial, entre outras.

Perfil das vítimas

65% até 25 anos

99% homens

65% negros

35% brancas

75% apenas com Ensino Fundamental

54% com antecedentes criminais

46% sem antecedentes criminais

Perfil das ocorrências
67,3% das ocorrências não têm testemunhas civis, apenas policiais Em 33% dos casos com testemunhas civis, metade diverge da versão policial

Maior parte das mortes ocorreu na Grande São Paulo (224)

O 41º Batalhão da PM, em Santo André, é o que tem mais mortes: 21. O segundo é o 16º, no Rio Pequeno, Zona Oeste de São Paulo;

58,9% das mortes aconteceram no local do confronto e 41% no hospital

Fonte: ABCD Maior

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