PUBLICADO EM 21 de jan de 2019
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Riscos geopolíticos de 2019

Embora os mais sérios riscos geopolíticos (um confronto cibernético com a Rússia, guerra com o Irã, implosão na Europa, uma verdadeira guerra comercial entre China e Estados Unidos), não deem sinais de que ocorrerão em 2019, caminhamos para sérios problemas de longo prazo. Esses são os primeiros do Top 10 dos riscos do grupo da Eurásia esse ano.

Por Ian Bremmer

  1. Sementes más: líderes mundiais estão tão ocupados lidando com crises locais, que eles estão ignorando problemas muito maiores na estrada. 2019 é o ano em que “sementes más” estão sendo plantadas, que irão eventualmente ameaçar a inteira ordem global. Exemplos? Instituições políticas através das democracias avançadas do mundo, a aliança transatlântica, OTAN, a União Europeia, o G20, a Organização Mundial do Comércio, Estados Unidos e China, Rússia e o Ocidente… nenhum desses vai explodir esse ano, mas cada um deles está caminhando na direção errada.
  2. Estados Unidos – China: a relação Estados Unidos-China está quebrada, e mesmo uma trégua na guerra comercial não vai consertar isso. A confiança entre os dois lados está quase acabando. Democratas e Republicanos concordam que a China representa uma ameaça. Os chineses acreditam que não podem se dar ao luxo de recuar. Os dois lados vão trabalhar para se tornar menos vulneráveis ao outro, reduzindo as conexões que até agora os uniu.
  3. Sem luvas de proteção cibernéticas: os hackers desenvolveram novas habilidades, nossa dependência digital se aprofunda, e não há regras realistas na estrada para evitar o conflito cibernético. É difícil parar um ataque. Você não consegue dizer se é o governo, um ladrão, um terrorista ou um anarquista que está caçando você. Suas defesas cibernéticas se tornam obsoletas rápido. E 2019 vai ser o ano em que o governo dos Estados Unidos vai na ofensiva. Os resultados são difíceis prever.
  4. Populismo Europeu: a União Europeia vai realizar eleições parlamentares em maio, e populistas vão ganhar assentos mais do que nunca. Eles também vão ganhar um papel maior na Comissão Europeia e no Conselho Europeu, ajudando-os a desafiar a atual política europeia em migração, comércio e aplicação das regras da União Europeia nos estados membros. Populistas também vão ganhar terreno esse ano dentro da França e da Itália – a terceira e quarta maiores economias da União Europeia.
  5. Os Estados Unidos: a maioria na Casa dos Representantes dá aos Democratas poder real pela primeira vez desde que Donald Trump se tornou presidente, e embora ele provavelmente não vai ser removido do cargo, lutas internas em Washington vão ser especialmente intensas em 2019. Trump vai enfrentar desafios dos Democratas, da mídia, dos tribunais, e um crescente número de investigações de sua administração, sua campanha, seus negócios, e sua família. Trump vai retornar o fogo, aumentando o risco de uma crise constitucional. Os mercados podem permanecer voláteis.
  6. O inverno da nossa inovação: medos de segurança persuadem governos de evitar fornecedores estrangeiros em áreas críticas para a segurança nacional. Preocupações com a privacidade os levam a regular firmemente como os dados dos cidadãos podem ser usados. Preocupações econômicas os levam a construir barreiras que protegem suas empresas de tecnologia contra competidores estrangeiros. Nós vemos essa tendência nas relações entre Estados Unidos e China, mas Europa e Japão também estão impondo novas restrições. Brasil, Índia, e até a Califórnia, têm adotado, ou estão considerando, fortes regras de proteção de novos dados. A inovação depende da cooperação. Espere muito menos disso em 2019.
  7. Coalizão dos relutantes: Donald Trump agora tem imitadores. Matteo Salvini, da Itália, e Jair Bolsonaro, do Brasil, jogaram pelo mesmo livro de Trump para vencer uma eleição. Vladimir Putin, da Rússia, Recep Erdogan, da Turquia, e Kim Jong-un, da Coréia do Norte têm razões táticas para promover o presidente dos Estados Unidos. Mohammed bin Salman, da Arábia Saudita, e Bibi Netanyahu, de Israel, precisam de seu apoio. Esses líderes não saúdam uma bandeira comum, mas cada um vai apoiar os desafios de Trump ao status quo
  8. México: o novo presidente Andres Manuel Lopez Obrador é popular, e seu partido tem grande maioria no Congresso, mas sua proposta para reverter a abertura da economia do México, políticas macroeconômicas ortodoxas, privatizações, e desregulamentação ameaçam um retorno aos anos de 1960. Em 2019, ele vai gastar dinheiro que o México não tem em problemas como pobreza e segurança, que resistem a soluções diretas. E como ele centraliza o poder, a elaboração de políticas se tornará mais errática.
  9. Ucrânia: Vladimir Putin não comprometerá a Ucrânia, o mais importante vizinho da Rússia. Ele quer uma palavra decisiva no futuro desse país. A Ucrânia vai realizar eleições presidências em março, e eleições parlamentares na primavera. A Rússia vai interferir para um grau muito maior do que seu envolvimento nas eleições americanas e europeias. Ambos governos têm incentivos políticos para escolher lutas com o outro. Embora ambos queiram manter suas batalhas em limites, o conflito pode assumir vida própria.
  10. Nigéria: a Nigéria enfrenta sua eleição mais ferozmente contestada, desde que se tornou uma democracia, em 1999. Falta ao presidente Muhammadu Buhari energia e habilidades para ir ao encontro das necessidades da Nigéria. Seu oponente, Atiku Abubakar, quer principalmente enriquecer a si e seus aliados. Se Buhari ganha, as muito necessárias reformas devem esperar, e os ataques de militantes a indústria petrolífera vão piorar. Sua saúde deficiente poderia adicionar brigas políticas. Uma vitória da oposição alimentaria incerteza política. Há também um risco curinga: um resultado eleitoral inconclusivo poderia criar o caos.

PS

No Brasil, Bolsonaro pode ser um nacionalista e ex-oficial do exército, mas o público, a mídia e as instituições políticas brasileiras não vão dar espaço para qualquer perigosa centralização de poder. O príncipe herdeiro saudita fez muitos inimigos nos anos recentes, mas ele não vai a qualquer lugar, e nem ele nem o reino que ele vai liderar enfrentam sérios riscos em 2019. A necessidade do Irã de suportar as sanções americanas protegendo relações com a Europa limitará a agressividade de sua política externa, enquanto mantém sua cabeça baixa e tenta esgotar o relógio na administração de Trump. Suspeita e concorrência entre Rússia e China garantirá que eles não se movam na direção de uma genuína aliança antiocidental.

Fonte: time.com

Tradução: Luciana Cristina Ruy

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  • rita de cassia vianna gava

    O confronto cibernetico é o pior. Não se sabe o que vai dar no final dessas conjunturas. Há imprevisibilidade.
    Algumas grandes mudanças ou THE END

QUENTINHAS