PUBLICADO EM 10 de out de 2018
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O efeito placebo é real e cientistas podem prever em quem funciona

É bem estabelecido que tratamentos com placebo, como pílulas de açúcar, podem levar a reais reduções nos sintomas dos pacientes. Mas cientistas, há muito tempo, tentam entender como o efeito placebo trabalha, e para quem.

Um pequeno novo estudo publicado na revista Nature Communications descobriu que quando algumas pessoas com dor crônica nas costas tomaram uma pílula de açúcar de placebo, sua dor foi reduzida tão efetivamente, como se elas tivessem tomado uma medicação para a dor. Mas a mais nova descoberta, dizem os pesquisadores, é que pessoas com certas peculiaridades de forma confiável responderam melhor a placebos que outras – o que pode algum dia ter implicações significativas para a prática médica.

“A linha padrão é que resposta ao placebo é real, mas não é previsível”, diz o coautor do estudo A. Vania Apkarian, professor de fisiologia na Escola de Medicina na Universidade Feinberg do Noroeste. Esse é o ponto de vista clássico da literatura: que você não pode prever quem vai responder, ou o quanto vão responder. De fato, nós podemos prever ambos”.

Apkarian e seus colegas recrutaram 63 pacientes com dor nas costas crônica para o estudo. Quarenta e três receberam uma pílula de açúcar, que eles não sabiam que era um placebo, e 20 não receberam tratamento nenhum. Ninguém recebeu um verdadeiro analgésico. No curso de cerca de oito semanas, os indivíduos tinham periódicas avaliações laboratoriais, e monitoravam sua dor diária num aplicativo de smartphone.

Cerca de metade dos pacientes que receberam o falso tratamento experimentaram uma redução na dor de aproximadamente 30% – um resultado comparável com as drogas atualmente no mercado.

Os pesquisadores também descobriram certas peculiaridades que pareciam prever se as pílulas de açúcar seriam efetivas ou não. Várias características da anatomia do cérebro (tais como assimetria nas áreas do cérebro que controlam as emoções e a recompensa, incluindo a amídala, núcleo accumbens e hipocampo) e personalidade (tais como ser emocionalmente autoconsciente, sintonizado com o corpo e atento ao seu entorno) estavam correlacionadas com a experiência do efeito placebo, disse Apkarian.

O poder preditivo parecia ser forte o suficiente, disse Apkarian, de forma que esses pacientes não precisavam nem ser enganados sobre o fato de que estavam tomando placebo – seus cérebros já estão “preparados para responder”, mesmo sabendo que estavam tomando uma droga falsa.

É impossível dizer quando, ou se, os resultados poderiam ser integrados na prática médica, disse Apkarian. Seu estudo foi pequeno e precisará se repetido. Ainda, a população incluída no estudo – pacientes com dor crônica – pode ter extensiva experiência com o sistema médico e “fortes atitudes sobre sua saúde”, disse Apkarian. Pessoas com menos exposição ao sistema de saúde podem não ter o mesmo perfil cognitivo, ou serem tão conectadas a pequenas mudanças na dor e outros sintomas.

Mas se os médicos poderiam consistentemente prever a resposta ao placebo, Apkarian disse que o impacto seria enorme, tanto no nível individual, quanto no sistemático. Não apenas os médicos poderiam prescrever placebos (que são livres de efeitos colaterais) para certos pacientes, poupando-os de desnecessário uso de drogas, mas os testes clínicos poderiam viavelmente ser projetados sem contar com o efeito placebo, fazendo ambos mais baratos e mais fáceis de completar.

“Assim, os clínicos poderiam dar cinco ou seis questões para os pacientes e decidir se eles deveriam apenas prescrever uma pílula de açúcar a eles”, disse Apkarian, “O mais alto sua pontuação nesse questionário de personalidade, a maior resposta ao placebo será”.

Fonte: Jamie Ducharme, para time.com

Tradução: Luciana Cristina Ruy

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