PUBLICADO EM 07 de jun de 2019
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O Sindicato do futuro: a transição (II)

O Sindicato do futuro depende de ações e estratégias do movimento sindical no curto e no médio prazo, nesse contexto de profundas mudanças no sistema produtivo e nas relações de trabalho. Um caminho é promover alterações na organização, no patrimônio, na administração, nos serviços e nas formas de representação, nesse mundo ainda conhecido, complexo e desigual, resultante de três revoluções industriais e tecnológicas, em um cenário no qual o ritmo de inovações é vertiginoso.

O Sindicato do futuro depende de ações e estratégias do movimento sindical no curto e no médio prazo, nesse contexto de profundas mudanças no sistema produtivo e nas relações de trabalho. Um caminho é promover alterações na organização, no patrimônio, na administração, nos serviços e nas formas de representação, nesse mundo ainda conhecido, complexo e desigual, resultante de três revoluções industriais e tecnológicas, em um cenário no qual o ritmo de inovações é vertiginoso.

A renovação sindical, no entanto, servirá para este momento em que ainda se vive a transição. Um novo universo irrompe e deverá obrigar o movimento sindical a uma nova e mais intensa transformação. Estado, empresas, instituições, comunicação e quase tudo o que conhecemos e que envolve trabalho e sociedade passam por mudanças disruptivas, que se aprofundam cada vez mais.

As novas formas de produção e de organização engendram também novas relações sociais, impondo outras dinâmicas econômicas, sociais, culturais e políticas em contextos sociais concretos, com situações, modo de ser e de existir inéditos. Tudo está se tornando muito diferente daquilo que se conhece. O Sindicato tem o desafio de se reinventar para ser coetâneo com esse novo mundo. O desafio é a reorganização com a perspectiva do futuro.

O novo mundo começa a ganhar concretude. Há milhões de jovens trabalhadores nesse universo, gente que está muito longe, afastada dos sindicatos.

Sem trabalhadores não haverá futuro para os Sindicatos!

O Sindicato é uma organização e estrutura a serviço das lutas dos trabalhadores – e isso deve ser compreendido no sentido radical -, cujo futuro dependerá do que os trabalhadores que constroem o novo mundo fazem e farão. Serão esses trabalhadores que, ao ocupar posições nos sindicatos, desenharão essas entidades.

A reorganização que fará emergir uma “alma sindical” compatível com o mundo que surge será organizada na fonte das novas contradições que essas transformações criarão no sistema produtivo e nas relações sociais de produção. O fosso das desigualdades aumenta as injustiças sociais; a conexão múltipla e, em tempo real, tem levado à solidão e ao isolamento; o consumismo, o individualismo e a prevalência do imediato geram depressão; a pressão por resultados e lucro traz o fracasso e a banalização; o emprego e a ocupação precários e flexíveis conduzem à desproteção; o poder da riqueza e do mérito dos ricos promove o desespero e a frustração dos pobres.

No novo mundo, existirão muito mais complexidade e contradições. Mas não se deve desanimar, afinal é somente através do outro que a humanidade ganha existência. Sem o outro não há alegria, beleza, encanto ou amor. O ser humano está destinado a este encontro que também acontece na dor e no sofrimento e, principalmente, nas lutas.

Esse novo mundo repleto de contradições, velhas ou não, reabrirá as portas para que a solidariedade possa emergir como valor a criar possibilidades de outros modos de vida em sociedade e a tolerância possa ser reinstituída como instrumento para definir como a sociedade viverá. A filosofia resgatará a razão e a pedagogia, a arte de aprender com o outro.

Por isso, um projeto para um sindicato desse novo mundo nascerá das lutas dos novos trabalhadores que constroem outro universo. E o que podem fazer aqueles que aqui estão e vivem nesse universo em mudança? Abrir as portas do Sindicato e dar flexibilidade à organização para que a nova alma sindical tome forma e ganhe corpo por meio das lutas.

Por isso, o projeto de futuro deve colocar os trabalhadores em movimento, para que descubram o sentido da luta, renovem a solidariedade, descubram a força social e política e passem a acreditar nas possibilidades de justiça e de igualdade como projeto de sociedade. A reorganização sindical deve ser um projeto de transição que aposta no sindicato como instrumento a ser renovado pelas lutas dos novos trabalhadores. A transição deve ser um projeto de transformação de quem é capaz de deixar, para além da vida, sementes que germinarão vidas futuras. A transição é um projeto que intencionalmente abre a estrutura, a organização, o patrimônio, os serviços dos sindicatos para a transformação, para “um deixar acontecer e um vir a ser” desconhecido e que não se controla. A transição é uma estratégia para incentivar mudanças orientadas para o futuro e para o novo mundo. A transição é partilhar uma caminhada para a construção conjunta de um projeto de futuro.

Clemente Ganz Lúcio é sociólogo e diretor técnico do Dieese

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