PUBLICADO EM 15 de fev de 2018
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Terror na Flórida: 17 pessoas morreram após tiroteio nos EUA

Atirador é ex-aluno de 19 anos que tinha um rifle AR-15; Consulado-Geral do Brasil na Flórida disse, ao Portal G1, que não há informações sobre as nacionalidades das vítimas, mas que entre os brasileiros dos quais o consulado tem conhecimento estão todos bem; Brasileira Kemily dos Santos Duchini, de 16 anos, estava em uma das salas de aula de colégio onde atirador matou ao menos 17 pessoas; ela tentou tranquilizar a mãe por SMS; aluna brasileira relata terror em escola na Flórida: “Ouvíamos os tiros cada vez mais perto”; confira a seguir relato da brasileira

Foto: John McCall/South Florida Sun-Sentinel via AP

Um atirador foi detido nesta quarta-feira (14) após deixar mortos e feridos em uma escola em Parkland, na Flórida. O xerife do condado de Broward, Scott Israel, disse que 17 pessoas morreram.

Consultada pelo G1, a assessoria de imprensa do Itamaraty informou que o Consulado-Geral do Brasil na Flórida disse que não há informações sobre as nacionalidades das vítimas, mas que entre os brasileiros dos quais o consulado tem conhecimento estão todos bem.

Vítimas confirmadas
Segundo Israel, 12 pessoas foram mortas dentro da escola; duas vítimas morreram fora do prédio; uma morreu em uma rua próxima e 2 morreram no hospital.

Além deles, hospitais da região receberam mais 14 pacientes. O suspeito do tiroteio também foi levado ao hospital, sob custódia da polícia.

O atirador foi identificado como Nikolas Cruz, um ex-aluno da Stoneman Douglas High School. Ele tem 19 anos e, segundo as autoridades, tinha sido expulso da escola por motivos disciplinares. Cruz portava um rifle AR-15 e agiu sozinho.

Um alarme de incêndio foi disparado por volta das 14h30, pouco antes do final das aulas, e os tiros começaram em seguida.

O jornal “Miami Herald” conversou com professores e alunos que conhecem Cruz e dizem que ele era considerado uma pessoa problemática, que ameaçava colegas e não tinha autorização para entrar no prédio portando mochilas. Segundo o professor de matemática Jim Gard, o jovem chegou a receber uma solicitação para deixar o local no ano passado.

Reação da Casa Branca
A Casa Branca informou que o presidente Donald Trump foi comunicado rapidamente sobre o caso. O presidente postou uma mensagem sobre o assunto no Twitter. “Nenhuma criança, professor ou qualquer outra pessoa jamais deveria se sentir insegura em uma escola americana”, escreveu.

Área isolada
A polícia de Coral Springs está pedindo que as pessoas continuem evitando a região da Marjory Stoneman Douglas High School. Um hotel nas proximidades foi usado como ponto de encontro entre alunos e seus pais.

Imagens de TV mostraram mais cedo diversos estudantes deixando o prédio, escoltados por agentes da SWAT. Agentes do FBI também estão no local.

Um esquadrão anti-bombas está vasculhando a escola como medida de precaução. Segundo a CNN, os examinadores e policiais só terão acesso à escola depois que essa varredura termine.

Parkland fica a cerca de 24 km a oeste de Fort Lauderdale.

Relato da brasileira
Brasileira Kemily dos Santos Duchini, de 16 anos, vive com a família na pacata Parkland, de 30 mil habitantes, há quatro anos – e desde 2016 cursa o ensino médio no colégio que se tornou palco da tragédia ocorrida na Flórida nesta quarta-feira.

A estudante estava dentro de sua sala de aula na escola pública Marjory Stoneman Douglas, em Parkland, na Florida, enquanto um atirador de 19 anos abria fogo contra alunos, em um ataque que deixou pelo menos 17 mortos. Nikolas Cruz, apontado pelas autoridades como o responsável pelo ataque, havia sido expulso da escola por “motivos disciplinares” e está preso.

Em depoimento por telefone à BBC Brasil, Kemily revelou a perspectiva desesperadora dos estudantes, que tentavam se comunicar com as famílias em meio à varredura policial e aos disparos e gritos, que se tornavam cada vez mais próximos.

A mãe, Fabiana Santos, soube do incidente por SMS, em tempo real.

“Mãe, tem alguém na minha escola atirando”, dizia a primeira mensagem de texto trocada entre as duas durante o tiroteio.

“Ela disse que tinha um atirador e depois passou muito tempo em silêncio. Eu fiquei desesperada e achei que o pior tinha acontecido. Depois ela reapareceu, disse que estava bem e que não podia usar o celular”, contou Santos à reportagem. “Só me tranquilizei mesmo quando nos encontramos.”

Kemily narra a chegada da polícia à sala de aula e uma intensa circulação de fotos, vídeos e mensagens entre alunos do colégio enquanto o tiroteio acontecia nos corredores. Mais calma que os colegas, ela preferiu esconder um vídeo que mostrava uma estudante ensanguentada um andar acima de sua sala de aula.

A brasileira conta que a experiência a fez repensar a política americana de armas – um dos pontos mais sensíveis da legislação dos EUA e que divide a população entre críticas inflamadas e defesas apaixonadas.

“Eu nunca tinha prestado atenção em gun control (controle de armas), achava que não tinha a ver comigo. Mas, agora que bateu na minha escola e aconteceu comigo, a gente vê de um jeito diferente. Esse menino provavelmete não tinha idade para ter uma arma. Eu não era antes contra o controle. Nem contra nem a favor. Agora eu acho que tem que ser mais regulado.”

Leia o depoimento da estudante para a BBC Brasil:

“Eu estava em um prédio chamado Freshment Building, que foi o primeiro onde ele entrou. Estávamos fazendo tarefa e a primeira coisa que escutamos foram quatro tiros e barulhos altos, como se alguém estivesse jogando algo muito pesado no chão.

Nós ouvíamos homens gritando e não entendíamos. Os tiros estavam se aproximando da minha sala. Eu estava no segundo andar e percebia que estava subindo as escadas, chegando cada vez mais perto.

Então ouvimos: “Ponha as mãos na cabeça!”. Era a polícia falando com alguém.

Mas continuamos ouvindo muitos tiros depois disso.

Enquanto tudo acontecia, a escola não fez nenhum aviso no sistema interno de alto-falantes. O sinal do fim da aula também não tocou.

Às 15h, bateram na porta da sala de aula dizendo que era a polícia. Por protocolo, regra da escola nesse tipo de situação, nós não podíamos abrir.

Então eles quebraram a janela, pediram para todos colocarem as mãos na cabeça e começaram a fazer perguntas. “Tem alguém armado?” “Tem alguém ferido?”

Eles pediram para todos nós sairmos com as mãos nos ombros das pessoas da frente. Lá fora, eram mais de dez homens da SWAT com armas enormes gritando para nós: “Corram!”, “Andem rápido!”, “Não olhem para trás!”.

O policial disse para não olharmos, mas uma amiga virou e viu uma menina morta no chão.

Nessa hora eles pediram para colocarmos as mãos na cabeça. Andamos até a esquina da escola e lá fora encontramos a polícia, e pais e mães chorando.

Encontrei uma amiga do terceiro andar, onde aconteceu a maior parte da destruição. Ela contou que viu quatro mortos – duas meninas caídas na entrada do banheiro.

No primeiro e no terceiro andares, os banheiros estavam trancados e elas não conseguiram entrar.

Todos os tiros foram na cabeça.

Eu estava calma. Não sou muito de ficar desesperada. As meninas todas choravam, tremiam muito.

A professora estava muito preocupada, você via na cara dela. Mas ela fazia de tudo para nos tranquilizar e dizia que o que estava acontecendo era um tipo de teste, uma encenação. Isso acontece às vezes.

Eu mandava mensagens para a minha mãe enquanto os tiros aconteciam. Eu dizia que estava bem, mas não conseguia escrever o tempo todo porque a professora mandou não usarmos os celulares.

Ela falava para ninguém mandar mensagens, mas estava todo mundo desesperado.

Recebi uma foto de uma menina lá fora na ambulância e um vídeo com um corpo ensanguentado em outra sala de aula.

Não mostrei para os meus colegas porque eles já estavam muito desesperados.

Na minha sala ninguém gritou excessivamente ou fez escândalo. Mas soube que em outra sala teve um menino que teve um ataque de pânico muito forte.

O encontro com a minha mãe foi muito bom. Ela estava muito feliz por me encontrar bem.

O que fica dessa experiência? Bom, eu nunca tinha prestado atenção em gun control (controle de armas), achava que não tinha a ver comigo.

Mas, agora que bateu na minha escola e aconteceu comigo, a gente vê de um jeito diferente. Esse menino provavelmente não tinha idade para ter uma arma. Depois soubemos que ele foi expulso da escola porque encontraram balas na mochila dele.

Eu não era antes contra o controle. Nem contra nem a favor. Agora eu acho que tem que ser mais regulado.”

Fonte: Portal G1

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